Para quem não viu ou não se lembra muito bem, no primeiro post dessa série em que apresento as pessoas diretamente envolvidas na produção do meu EP falei do pilar que me apoia diariamente, me dá força e coragem para acreditar e seguir em frente com tudo isso, minha família . Hoje vou falar um pouco da minha trajetória musical, e aposto que muitos dos que serão citados não fazem ideia do quanto contribuíram para que eu chegasse até aqui e que os mantenho vivos, e bem guardados, em minhas lembranças afetivas. Realmente não sei a relevância disso para vocês que acompanham minhas postagens, mas vou manter meu estilo de dar embasamento aos leitores para que possam se aproximar ao máximo das minhas sensações e emoções, compreendendo melhor a essência da minha arte e a consciência de que sozinhos não somos, não existimos.

A música exige e nos dá uma vida de aprendizagem diária por toda a vida. Como todo menino apaixonado por música, e que aos 12 anos começava a ensaiar seus primeiros batuques na bateria ao som de Metallica, Aerosmith, Guns N’ Roses, Mamonas Assassinas, Raimundos, Silverchair, Rage Against The Machine, Pearl Jam, Stone Temple Pilots, Bush e outras tantas bandas de rock que estavam no auge na década de 90, fantasiava a cada toque no tambor que estava no palco com esses caras. Era muito divertido. Vieram então as primeiras bandas, os primeiros shows, os primeiros erros e acertos, as primeiras alegrias e frustrações dessa arte que inspira e alimenta a alma, mas que pode também ser muito ingrata quando conduzida por pessoas mal intencionadas e sem qualquer sensibilidade.

Lembro que fiz questão de dar o primeiro dinheiro que ganhei com a música para o meu pai, cerca de R$ 10,00. Ele me olhou com carinho e disse mais ou menos assim: “Compra um cachorro quente e um refrigerante com esse dinheiro, tocou a noite toda, deve estar com fome”. Nessa etapa inicial e bem rockeira da minha vida musical marcaram as amizades de Gabriel Rosa, Luis Sandrini, Felipe Martins (integrantes da minha primeira banda), do meu irmão, Iaponam Júnior, sempre pronto para um som no porão aqui de casa, e seu amigo Marcelo Negrisoli.

Mas já nessa época os amigos Bruno Takara e Bruno Lopez me encantavam e apresentavam um outro lado da música: o som instrumental e a importância do estudo. Confesso que no estudo deixei muito a desejar, sempre apostando no feeling para me expressar naturalmente, mas a semente da curiosidade em descobrir novos sons foi permanentemente plantada em mim. Agora receptivo, passei a ouvir com mais atenção as letras e melodias que vinham da voz e do violão do meu pai. Posteriormente comecei a entender a beleza nas canções de Milton Nascimento, Djavan, Toquinho e Elis Regina.

Arrisquei os primeiros acordes e me descobri compositor. Nada de tocar música dos outros, meu negócio era cantar coisas só minhas. Mas a paixão pela bateria ainda era maior. Era onde me sentia totalmente à vontade e pronto para o show. Já na faculdade, e com a formação musical totalmente plural, veio a fase funk soul brasileiro quando, junto de André Mota, Murilo Emerenciano e Igor Fediczko, vivi a fase de tocar na noite e bares da Vl. Madalena, em São Paulo. Ao som de Tim Maia, Cassiano, Lulu Santos, Cláudio Zoli, Banda Black Rio, Ed Motta, Hyldon, Jorge Bon Jor e Jota Quest garantíamos a diversão do público.

Nesse período me dei conta de que não queria viver à custa dos outros e que poderia contribuir mais com a sociedade tocando músicas próprias. Mas sem muita personalidade ou um estilo próprio não acreditava nas minhas composições até aquele momento. Fiquei pelo menos dois anos afastado da música. A bateria ficou tomando pó e o violão desafinado. Até que o reencontro com um amigo de infância me fez largar o trabalho e conciliar o último ano da faculdade com um projeto musical acústico de reportório variado, formato ideal para bares e restaurantes quando a lei do “Psiu” passou a vigorar em São Paulo.

Mais do que parceiro musical, André Simprini, se tornou irmão de alma. Com uma visão simples da vida nos identificamos nos valores, crenças e essência. Os ensaios eram feitos mais de conversas e reflexões do que de música. A partir daí minhas composições passaram a trazer mensagens de reflexão sobre a vida, o amor e a felicidade verdadeira que é possível encontrar em nós mesmos, naqueles que amamos e nos amam, e também no próximo. Com formato musical e relação de amizade muito parecida com a que estabeleci com André, a parceria com Frã Finamore se deu na mesma época e também ajudou muito a me solidificar como compositor e artista (seguimos juntos até hoje).

Eis que ainda como baterista dei início a terceira fase musical da minha vida: a Fabulosa Banda do Curinga. O amigo Igor formou uma banda e gravou um cd só com músicas próprias. Aquilo me tocou muito. Era tudo o que mais desejava. A banda era original, criativa, talentosa e muito bem organizada. Acompanhei de perto o crescimento e sucesso que eles faziam na região da Granja Viana, em São Paulo. Desejava muito ser parte daquilo tudo, mas com a banda completa não havia outra coisa a fazer se não apoiar, e muitas vezes atuar como roadie e mero expectador daqueles caras que se emocionavam em cima do palco sob as luzes e aplausos calorosos do público.

Pego totalmente de surpresa recebo o convite para entrar na banda. Depois de algumas formações o posto de baterista ficou vago e fui a escolha natural para ocupá-lo. Fiquei nervoso para o primeiro ensaio/teste. Não tocava bateria de maneira regular há um bom tempo. Foram tempos de muito aprendizado, esforço e enriquecimento musical ao lado de André Di Bonaventura, Felipe Di Bonaventura, Igor Fediczko, Paulo Gianini, Renato Pereira, Sidnei Barros, Rafael Benevides, Henrique Pezutto Vital, Éric Yoshino, Brunno Cunha, Bia Araújo e Sérgio Di Bonaventura.

Pena nunca ter escrito meu nome na história da Fabulosa de maneira definitiva. Fizemos alguns shows e logo nos recolhemos para a produção do segundo disco. Estava entusiasmado pela primeira experiência profissional em estúdio. Na escolha do repertório apresentei algumas músicas minhas, mas era nítido o contraste de estilos e não cabia forçar as coisas. Seguimos em frente com a pré-produção do disco e as coisas não aconteceram como imaginávamos. E minha participação na banda ficou restrita a gravação da bateria no single “Terra em primeira pessoa” e o registro feito durante apresentação nos estúdios da TV TRAMA (http://goo.gl/I9Byx / http://goo.gl/I7sbC).

Os objetivos pareciam já não serem os mesmos e as atividades da banda foram suspensas por tempo indeterminado. Foi aí que meu foco se voltou totalmente para a gravação do EP. Paulo Gianini foi fundamental para a alegria e expectativa que vivo hoje. No próximo post conto de que forma passamos de improváveis amigos a cúmplices na realização de um sonho que é nosso.

– Esse post também é dedicado aos mestres: Henrique Iafelice, Vera Figueiredo, Alex Corrêa e Paganini Drummer.