Nesse atual universo de conexão total, onde as redes sociais digitais nos possibilitam o contato direto com um ídolo, um artista ou um desconhecido que descobrimos por acaso através de gostos em comum, é real o sentimento de que estaremos sendo lidos e valorizados por todas essas pessoas. Há também a escolha, por parte dos artistas e ídolos, de se manterem conectados apenas de maneira superficial e entregarem nas mãos de terceiros o seu relacionamento com as pessoas que creem estar se comunicando diretamente com eles. Mas isso não deveria mudar o conceito estabelecido de que esses são canais com via de mão dupla.

Ainda não sou artista consagrado e tão pouco ídolo de alguém, mas desde já adoto a política de ser 100% responsável pelo conteúdo publicado em minhas redes sociais oficiais e pelas respostas a todos que entram em contato comigo por causa do meu trabalho como músico, cantor e compositor. É o mínimo que posso fazer em retribuição ao carinho e apoio que tenho recebido dessas pessoas. Devido a essa minha postura, e também por trabalhar com marketing digital na administração e produção de conteúdo para as redes sociais de empresas, produtos e serviços, me julgo apto a identificar quem realmente está por de trás das redes sociais dos meus ídolos e artistas preferidos. E mesmo que sejam administradas por terceiros espero receber um retorno em gratidão, ou qualquer sinal de que a mensagem foi recebida e lida. Aquela sinalização “Vizualizada – x horas” para mim não basta.

Crente de que era “ouvido” por meus ídolos, artistas preferidos, ou por quem admiro o trabalho por algum motivo específico, passei a enviar mensagens através da Fan Page dessas pessoas. Por enquanto frustrado por não ter recebido qualquer retorno* resolvi abrir essas mensagens e postá-las aqui em meu Blog como cartas abertas. Não há rancor ou raiva nessa minha atitude, apenas a vontade de ter meus sentimentos e pensamentos por essas pessoas explícitos e, quem sabe, finalmente ser “ouvido”.

Não pensei numa periodicidade para postar essas cartas abertas, mas a primeira é emblemática ao mostrar que não se trata apenas de uma relação de idolatria, mas sim de histórias que se entrelaçam em acontecimentos comuns para ambos, com peso importante em minha história de vida, e quem sabe na vida dele também, por que não?

Mensagem enviada por mim para o Jair Oliveira, na sua Fan Page, em 29/11/2013 às 15:26:

“Olá Jair!

Tudo bem?

Pode me chamar de Théo – Quanta intimidade e nem nos conhecemos, né? rs – O fato é que sou admirador do seu trabalho há muito tempo. Desde os tempos do projeto da Trama “Artistas Reunidos”. Isso sem contar a infância ao som do Balão Mágico . Enfim, na época dos “Artistas Reunidos” estava descobrindo a música brasileira mais intensamente, já que até ali o lance para mim era o bom e velho Rock N’ Roll, apesar de já nesse período ser impossível não me render a Djavan e Elis Regina, repertório que espantava os amigos roqueiros. A paixão pela música brasileira sempre esteve no sangue, fazer o quê né? rs

De parecido com você, além dos dreads, tenho também um pai cantor que me ensinou a amar a música. Ah, e também conheceu a Elis. Ele não teve a mesma sorte que seu pai para conviver e dividir por tanto tempo os palcos com a Pimentinha, mas cada vez que ele conta a história do dia em que esteve na casa dela durante um churrasco e tocou violão para que ela cantasse, me arrepio e gostaria muito de também ter vivido esse privilégio.

Bom, essa “pequena” introdução é pra dizer que você e sua família são parte de mim, e da minha família, desde sempre. E quando me encantei com aqueles “novos” artistas apresentados pela Trama me liguei mais ao Pedro Mariano. O CD “Voz no ouvido” marcou essa fase. Lindas melodias, letras românticas de extrema criatividade e bom gosto (a idolatria por Djavan me levou a ser um romântico sem qualquer vergonha disso) e arranjos de absurdo bom gosto. Passei então a notar um padrão nas músicas que eu mais gostava de todos esses “Artistas Reunidos”: o autor. O nome Jairzinho Oliveira aparecia em todas as mais belas canções.

Fui atrás do seu trabalho e me encantei com a opção pelo violão de nylon, a voz pequena e contida, mas de extrema sensibilidade e capacidade de emocionar, e as lindas composições. Me identifiquei mais uma vez: reafirmei minha paixão pela música, pelo gosto da composição e acabei reconhecendo os limites da minha voz ao mesmo tempo em que percebi sua capacidade de emocionar pela interpretação, assim como você.

Anos se passaram, muitas histórias vividas em minha vida e o que permaneceu intacto foi o meu amor pela música. E quando finalmente me senti pronto, e tive condições de colocar em prática o antigo sonho de gravar minhas composições, experimentei o prazer de contar com o talento, o carisma e a luz de Guga Machado na percussão de algumas faixas do meu EP. Além da colaboração musical, Guga trouxe você de volta para minha vista. Sua participação na música “Luz” do CD dele é maravilhosa. E mais impressionante foi o dia em que ele compartilhou um texto seu – “Truculências e Grosserias” – no qual você se mostrava indignado com a superficialidade de “matérias” e comentários ofensivos na internet, que naquele momento atingiam suas filhas. Cara, a partir daí passei a te seguir nas redes sociais e ler com atenção suas palavras.

Descobri que a preocupação com a distorção dos valores e essência das pessoas em nossa sociedade é comum em nós. Sua sensibilidade e maneira de colocar isso em palavras me fez sorrir e crer que ainda é possível um mundo melhor. E ser artista nos dá essa responsabilidade de ajudar nessa transformação do mundo, já que entendo a arte como uma ferramenta poderosa de transformação humana sociocultural. Tenho na minha música um instrumento de resgate da consciência humana, do resgate dos verdadeiros valores e essência humana com o desejo por “Dias de paz”.

O mais importante da minha admiração, do meu carinho e respeito por você foi dito acima de maneira muito sincera. E o texto enorme não pude evitar, gosto de escrever e isso é muito natural quando o assunto me encanta e extraí o melhor de mim. Agora vem a parte “cara de pau”, que estou aprendendo a ter ao descobrir, cada dia mais, que o talento, a paixão e o suor não bastam nesse caminho pelo qual pretendo seguir e de onde quero tirar o necessário para uma vida digna ao lado das pessoas que amo: viver da música. A “cara de pau” é para deixar ao final da mensagem o link do meu site para, quem sabe, você acessar para conhecer meu trabalho e, quem sabe de novo, retornar com alguma crítica, palavra de incentivo e até mesmo uma opinião pessoal sobre o que achou. Então, aqui está meu site: www.theo.mus.br.

Independente do que decida, faça ou ache a respeito do meu trabalho, estou radiante com a certeza de que você irá ler essa mensagem e que seu Facebook é realmente administrado por você e não por terceiros indiferentes ao calor do fã, dos admirados, dos amigos e até mesmo de quem possa querer lhe dizer algo de ruim. Admiro e tenho essa atitude como espelho em minhas redes sociais, quero também ser responsável pelas palavras ditas e ter a oportunidade de, quem sabe um dia, ser arrebatado por uma mensagem como essa . – Será que fui arrogante ou convencido, agora? Ah, que nada, sou sincero em dizer que receber uma mensagem como esta, de um desconhecido que se conectou comigo apenas através da minha arte, me deixaria em estado de graça e certo de que minha missão estaria sendo cumprida.

Agradeço sua atenção e por tornar real o contato com o ídolo.

Abraços,

Théo.”

*Se houver retorno do Jair Oliveira atualizarei o post com sua mensagem para mim 😉

Atualização em 30/01/2013 – “Resposta aberta a Théo” por Jair Oliveira

Conforme prometido na observação apontada pelo * ao final do texto original deste post, acima, venho atualizar seu conteúdo com a resposta de Jair Oliveira, que me retornou de maneira espontânea, bela, humilde e singela a carta aberta que publiquei dirigida a ele há menos de 24h. Admirável seu comprometimento com suas convicções e o respeito dispensado para com aqueles que o alimentam de carinho, admiração e o fazem sentir diariamente a sensação de dever cumprido e constatar o poder emocional, social e cultural da música. Me sinto feliz, recompensado e motivado para seguir adiante! Muito obrigado, Jair =)

“Resposta aberta a Théo” por Jair Oliveira, enviada em 29/01/2013 às 22:07, nos comentários do Blog:

“Fala, Théo!

Primeiramente, muito obrigado pela mensagem em forma de carta aberta e por todo o carinho de suas palavras. Fico realmente emocionado ao perceber que, de alguma forma, meu trabalho como compositor e músico te influencia em sua carreira e em sua vida. Isso é, provavelmente, a maior recompensa para quem tem a honra de trabalhar com e para a música! Você deve saber bem disso.

Confesso que só vi sua mensagem anterior (no inbox de minha fanpage no FB) agora pois, assim como você, também faço questão de eu mesmo responder a quem me escreve nas redes sociais e acabo perdendo algumas tantas delas por conta da quantidade (e, algumas muitas vezes, por puro vacilo mesmo!). Desculpe se pareceu indiferença, mas foi simples desatenção ou qualquer coisa assim.

Acho muito importante que você tenha tocado no assunto da responsabilidade pelas próprias palavras na internet. Muita gente não pensa assim e imagina que se esconder atrás de um “nickname” e escrever sem medir consequências é pura e simplesmente a realização da mais saudável liberdade de expressão! Eu, ao contrário, tento sempre ter total cuidado e responsabilidade com o que escrevo em minhas canções, meus textos e meus “posts” nas redes sociais. E fico muito contente de saber que pessoas como você também concordam com esta postura de exercer a liberdade de expressão com respeito, sensatez e inteligência. Realmente temos muito em comum além dos dreads, do pai cantor e da música! rsrs

E falando em música, sabemos que a batalha para se fazer perceber musicalmente (digo MUSICALMENTE!) nos dias de hoje é muito grande (principalmente aqui no Brasil, onde ainda existe um claro monopólio cultural e midiático que guia e controla os desejos e a informação da maioria da população). Isso não é uma reclamação; é simplesmente uma constatação que não diminui em nada o desejo de músicos e artistas de batalhar ainda mais para espalhar canções que acreditamos e fazemos com toda dedicação e carinho. Com todo este cenário desenhado, te parabenizo por escolher trilhar seu caminho com fé e persistência, realizando seus projetos com a máxima dignidade. Assim também me comporto com minha própria carreira e com os princípios de vida nos quais acredito. O caminho é árduo, mas gratificante ao extremo!! Ou, melhor dizendo, “a rapadura não é mole, mas é extremamente doce”!

Dei uma “passeada” por seu site e fiquei bem feliz de ver que a internet continua sendo a melhor parceira para nós músicos independentes. Parabéns pela música e pela iniciativa de expor seu trabalho de maneira criativa e inovadora.

Bom, acho que respondi sua carta aberta de maneira igualmente extensa, mas o fiz por me sentir realmente lisonjeado com as palavras a mim dirigidas. Muito obrigado mesmo.

Vamos nos falando e tenha sempre muita música em sua alma.

Grande abraço,

J.O.”