As decisões que tomamos de forma consciente trarão como consequência muitos acontecimentos que não imaginávamos. Mas pode ter certeza que lá no seu subconsciente nada do que venha a acontecer será uma surpresa. Só nos damos conta disso passado algum tempo, passados alguns dias e, até mesmo, passados alguns anos. Claro, é preciso estar em paz consigo e olhar frequentemente para o seu interior, aprendendo a reconhecer a natureza dos seus verdadeiros sentimentos, valores e essência.

No último domingo, dia 12 de outubro de 2014, o que vivi foram acontecimentos que não imaginei ao conceber a ideia do meu primeiro vídeo clipe. Sem qualquer razão racional brotou em mim a ideia de reunir artistas plásticos para criarem obras de arte inspirados em minha música “Dias de Paz”. O resultado você poderá conferir em breve, dia 20/10 será lançado oficialmente em meus canais na internet.

Quando pensei já ter experimentado sentimentos dos mais emocionantes durante todo o processo de gravação do clipe, que contarei em detalhes no próximo post, a felicidade me fez parecer flutuar e acalmou o coração, diariamente aflito diante de um futuro incerto pela persistência em viver da minha música. Em uma tarde onde as pessoas estiveram presentes INTEIRAS, a exibição do vídeo clipe “Dias de Paz” acabou se tornando apenas o pano de fundo para um lindo espetáculo de celebração da ARTE.

O ambiente do Atelier Fazendo Arte foi o local perfeito para receber o evento de pré-lançamento do vídeo clipe “Dias de Paz”. Uma das locações do clipe, o ateliê contribuiu para que a atmosfera no domingo fosse lúdica e inspiradora. Para todo lugar que se olhava uma visão encantadora. O espaço aconchegante permitiu oferecer aos envolvidos na produção do clipe, e seus convidados, uma reunião que sintetizou a mensagem por “Dias de Paz”.

As várias manifestações artísticas do vídeo clipe saltaram para fora da tela e ganharam vida no ateliê. Além das obras de arte criadas para o clipe, tivemos também a exposição de fotos dos parceiros do Instinto Coletivo e sarau literário e musical. Artistas plásticos, escritores, músicos, cantores e compositores tiveram a oportunidade de apresentarem seus trabalhos e viverem uma troca profunda de conhecimento e sentimentos. A energia que tomou conta do espaço me trouxe a leveza da certeza de estar no caminho certo ao me deixar levar por meus sentimentos e convicções.

Marcos Santos e Eloisa Remedio / Foto por Priscila Cunha.

Marcos Santos* e Eloisa Remedio / Foto por Priscila Cunha.

Marcos Santos* e Eloisa Remedio estiveram presentes contagiando a todos com sua maneira alegre e otimista de encarar a vida. Eles abraçaram minha ideia e toparam participar do vídeo clipe “Dias de Paz”. Doaram seu tempo, talento, carinho e sensibilidade para expressarem os sentimentos que minha música inspirou. Os demais participantes do vídeo clipe não puderam comparecer, mas manifestaram sua alegria pela participação no projeto e resultado final de uma empreitada que teve início em fevereiro.

Erica Maradona está em viagem pelo nordeste ministrando oficinas de artes para crianças de Sta. Cruz do Capibaribe, agreste de Pernambuco, fazendo da arte ferramenta para a transformação social e cultural, exatamente a proposta de “Dias de Paz”. Álvaro Picanço, que leciona em uma escola pública na região de Cracolândia, em São Paulo, se ausentou por problemas de saúde. Seja de corpo presente, ou representados por suas obras, a energia dessas quatro pessoas foram fundamentais para a linda celebração do domingo.

Pré-lançamento vídeo clipe "Dias de Paz" / Foto por Ciro Neves

Pré-lançamento do vídeo clipe “Dias de Paz” / Foto por Ciro Neves (Instinto Coletivo)

O momento esperado por todos finalmente chegou! Exibiria pela primeira vez o vídeo clipe “Dias de Paz”. Eu mesmo só havia assistido ao vídeo finalizado uma única vez, poucas horas antes do início do evento enquanto ajustava os últimos detalhes de som e imagem do aparato montado para a sessão exclusiva. E talvez essa preocupação com os detalhes não me permitiu ser envolvido completamente pelo o que assistia. Situação completamente inversa a vivida mais tarde.

Já na companhia de todos os envolvidos no projeto, amigos e familiares que têm acompanhado e apoiado de perto minha luta, a emoção foi extrema. Não pelo o que vi na tela, mas sim pelo o que vi e senti ao meu redor: silêncio absoluto, olhares fixos, sorrisos contidos, sorrisos escancarados e olhos cheios d’água. E por mais carinhosas que fossem as palavras de todos na sequência daquela tarde, em meu coração já não cabiam mais sentimentos, tamanha a gratidão e felicidade por esse lindo momento vivido.

Meu pai e eu cantando "Criança" / Foto por Priscila Cunha

Meu pai e eu cantando “Criança” / Foto por Priscila Cunha

Tomado pela emoção abri as apresentações do sarau convidando meu pai para cantar comigo a música “Criança”, que ele fez pra mim quando eu ainda estava na barriga da minha mãe. Afinal, era Dia das Crianças. E assim se deu nossa primeira apresentação pública juntos, antes privilégio exclusivo da minha mãe e, raras vezes, de  familiares em reuniões íntimas. Impossível não estremecer a voz, desafinar e ainda quase paralisar diante do seu belo cantar. Sabia que o risco de me apequenar aos olhos do público presente era grande. Assumi minha pequenez e fui mais um a contemplar a potencia vocal de meu pai.

Flávio Notaroberto e seu filho pedro no Atelier Fazendo Arte / Fotos pro Priscila Cunha

O escritor Flávio Notaroberto e seu filho Pedro / Fotos pro Priscila Cunha

Na sequência convoquei o amigo e escritor Flávio Notaroberto para ler um dos contos do seu livro “Contos Suaves”, literatura que retrata a periferia de São Paulo com sensibilidade, lirismo, reflexão profunda e texto poético. “As Margens de São Paulo” conta sobre a fragilidade da vida na relação de um avô com seu neto, entrelaçando passado, presente e futuro. Nas memórias as lembranças de uma vida inteira, no presente a vida em seu ápice e no futuro as vontades que talvez não sejam vividas. E mesmo tendo escrito e lido esse conto inúmeras vezes, a emoção do escritor evidenciou um público presente de corpo e alma naquele momento.

Além de emocionar com sua arte, Flávio emocionou com sua generosidade ao doar alguns exemplares do seu livro para o meu projeto, repassando 100% do valor arrecadado com as vendas naquele dia e o que mais conseguir com a venda dos exemplares que deixou comigo (se tiver interesse envie e-mail para contato@theo.mus.br). Que presente poderia ser melhor para o Pedro, filho de Flávio, que acompanhado do pai nesse Dia das Crianças pôde experimentar a arte em sua essência? Com o gosto pelas palavras, pela arte e pela vida aprendidos com o pai, Pedro foi mais um a se manifestar artisticamente no domingo, fazendo da sua arte colorida expressão que emocionou, renovando a esperança em mim. (mais sobre o escritor e seu trabalho acesse: www.facebook.com/autorflavionotaroberto)

Iara Viana e Laurinha Guimarães, Quintal de Iaiá em ação / Foto por Priscila Cunha

Iara Viana e Laurinha Guimarães, Quintal de Iaiá em ação / Foto por Priscila Cunha

O sarau seguiu com a apresentação musical do grupo Quintal de Iaiá, formado por Iara Viana na voz e Laurinha Guimarães no violão e composições. Com música alegre e que incorpora o melhor da nossa MPB, o Quintal de Iaiá cativou a todos com seu carisma e sua doçura. Iara é amiga de longa data e nos reaproximamos recentemente por meio da música. Fiquei muito feliz em constatar que a música persistiu nela como persistiu em mim e, que hoje, possamos compartilhar as alegrias, tristezas e dificuldades desse caminho que seguimos com paixão. Atualmente encontram-se no processo de produção do seu primeiro trabalho. Vem coisa boa aí! (ouça o som do Quintal de Iaiá aqui: soundcloud.com/quintal-de-iaia)

Arthur de Jesus / Foto por Priscila Cunha

Arthur de Jesus / Foto por Priscila Cunha

Arthur de Jesus carrega no nome sua crença, todo seu amor e a razão da sua música. E se o Rock Gospel talvez pudesse colocar uma interrogação na cabeça de alguns dos presentes, com suas palavras impregnadas de puro amor, Arthur, tratou de cativar a todos. Em mim nunca pairou qualquer dúvida sobre a sua participação no evento. Se a celebração era pela arte genuína e mensagem por “Dias de Paz”, o Arthur era presença obrigatória. Me fez arrepiar com suas palavras sobre o amor e a maneira com que coloca sua alma para cantar. Quando colegas de trabalho nossa relação não era próxima ou íntima, mas por algum motivo sempre alimentei por Arthur um sentimento profundo de carinho, respeito e admiração.

Sabia e acompanhava seu trabalho musical desde aquela época, mas ainda não havia tido a oportunidade de vê-lo ao vivo. Agora sei o porquê de tanta empatia, apesar da nossa relação superficial na época em que éramos colegas de trabalho. Presamos pelos verdadeiros valores e essência humana contidos na alma. Feliz em ter na nossa relação a prova de que o que importa mesmo é o “crescimento humano”, independentemente de qualquer fator externo. Em breve, Arthur de Jesus lançará seu primeiro trabalho solo. (ouça a prévia aqui: soundcloud.com/arthur_de_jesus)

Anabel Bian e Frã Finamore, parceria entre irmãos / Foto por Priscila Cunha

Anabel Bian e Frã Finamore, parceria entre irmãos / Foto por Priscila Cunha

Frã Finamore e Anabel Bian são uma dupla inseparável. Não na música, pois cada um tem o seu trabalho solo, mas na vida como irmãos. E assim se deu a apresentação de Anabel, acompanhada de seu irmão Frã ao violão. Parte de uma nova safra de talentosas cantoras da MPB, Anabel nos encantou com sua obra madura e sofisticada. Com dois CDs lançados, sua postura diante do microfone é irrepreensível. Simpática, segura e com perfeita dicção nos presenteou com a apresentação mais profissional daquela tarde. Sorte a nossa desfrutar de tamanha qualidade em um ambiente intimista. (comprove o que digo ouvindo Anabel Bian aqui: soundcloud.com/anabel-bian)

E o que dizer sobre o amigo Frã Finamore? Amizade que se deu, literalmente, através da música quando fui contratado, em 2005, para tocar bateria na sua banda, que teria uma apresentação em um evento em poucos dias. De lá para cá nossa relação só fez estreitar, sempre tendo a música como elo fundamental. Apresentações improvisadas em bares da São Paulo resultaram no projeto “Dois no Baile”, formato acústico ideal para tocar na noite e animar pequenos eventos corporativos e sociais. Uma maneira de levantar uma grana sem nos afastarmos muito da música e do nosso principal objetivo: viver do som autoral.

Frã Finamore traz em suas canções influências da Black Music brasileira dos anos 70/80 e do Rock Grunge americano dos anos 90. Mistura inusitada que resulta em um som original e com muita personalidade. Sem papas na língua, com Frã a conversa é sempre franca e verdadeira. Seu apoio e amizade têm sido fundamentais em meu projeto, seja pelas conversas ou pela estrutura material que empresta. Sem ele nada do que foi vivido no domingo seria possível, todo o equipamento de som era seu. Um dia escreverei com detalhes sobre nossa amizade e toda minha gratidão e admiração por ele, mas por hora vou parando por aqui, ainda há muito o que contar sobre o pré-lançamento do clipe. (ouça o som de Frã Finamore aqui: soundcloud.com/fr-finamore)

Além de mandar um som, Arnôh me presenteou com uma linda camiseta / Foto por Priscila Cunha

Além de mandar um som, Arnôh me presenteou com uma camiseta / Foto por Priscila Cunha

Arnoldo Arnôh, o Arnôh, cantor e compositor com dois discos lançados, é dessas pessoas que cruzam a nossa vida e só há uma única chance para nos aproximarmos. Nos conhecemos de maneira inusitada (ah, nem tanto se tratando de uma cidade como São Paulo). Fazendo a baldeação do trem para o metrô na Estação Pinheiros, avistei diante de mim alguém ostentando uma bela cabeleira black (black no nome, já que no visual trazia muitos grisalhos rs). Visual marcante e inesquecível! Reconheci ele de algum lugar, mas de onde? Vasculhando a memória enquanto o “perseguia”, finalmente lembrei: o tinha visto no programa do Jô. Pois é, o cara é fera, já traz no currículo uma apresentação no programa do Jô.

Toquei seu ombro, ele se virou, tirou os fones de ouvido e finalmente eu disse: “Você não se apresentou no programa do Jô outro dia?”. Seu sorriso largo denunciou a alegria por ter sido reconhecido. Arnôh é puro carisma, e ao final da nossa breve viagem de metrô, quando desembarquei na estação Paulista, ele me presenteou com um CD. Som que remete ao Rock brasileiro dos anos 80 e ao Blues americano, Arnôh é um artista que inspira e serve de exemplo por sua paixão pela música e persistência. Depois de assistir a alguns shows onde foi acompanhado por sua banda, adorei vê-lo só ao violão e cantar junto. (ouça o som de Arnôh aqui: soundcloud.com/arnohoficial)

Murilo Emerenciano

Murilo Emerenciano acompanhado por Tiago / Foto por Priscila Cunha

E antes que eu pudesse encerrar o evento, atendi ao pedido do amigo Murilo Emerenciano. Pianista clássico, lamentou o fato de não ter um teclado no local, queria muito mostrar uma música sua. Recentemente se descobriu compositor e pretende cantar suas músicas por aí, como eu tenho feito. “Cara de pau”, no bom sentido, Murilo passou os acordes da música para o Tiago, violonista que acompanhou o Arthur. E no melhor estilo sarau, Murilo e Tiago se apresentaram  sem qualquer ensaio ou entrosamento. Foi muito legal de ver! E que o Murilo possa correr atrás e nos apresentar, em breve, seu trabalho autoral.

Daniel Lima improvisando sobre a base de "Dias de Paz" / Foto por Priscila Cunha

Daniel Lima improvisando sobre a base de “Dias de Paz” / Foto por Priscila Cunha

Novamente de posse do meu violão, e diante do microfone, cantei “Dias de Paz” para fechar esse dia maravilhoso. Emocionante ouvir todos cantando a música comigo. E quando tudo parecia se encaminhar para o final, o amigo Daniel Lima somou rap e improviso ao meu som. Sem palavras para esse cara que só fez me apoiar desde o primeiro dia em que nos conhecemos, me presenteando com sua amizade e dando oportunidades para que meu som alcance mais pessoas. Ele foi o responsável por toda a emoção que pude sentir no pré-lançamento do meu EP na loja Jonny Size.

Sensacional o peso e beleza de sua rima improvisada sobre a base da minha música. O Dani tem uma banda, Ao Redor, que está prestas a lançar seu primeiro trabalho. Tenho acompanhado de perto e ajudado durante o processo de produção e gravação, e posso dizer que o trabalho está f… O som, que mistura Rap e Rock, traz muita verdade em sua mensagem. Sem palavras para você, Dani! Fiquei feliz demais com sua presença. Arrebentou! (ouça a banda Ao Redor aqui: soundcloud.com/bandaaoredor)

Retomando a reflexão do primeiro parágrafo, passados alguns dias do domingo, percebo que a vontade de ser um agitador cultural sempre viveu em mim. Ao convidar artistas plásticos para participarem do meu vídeo clipe dei início a um processo que se estenderá até o fim dos meus dias: a troca com as pessoas através da arte. Há tempos digo que acredito na arte como ferramenta poderosa para tocar o coração das pessoas e ajudar na transformação social e cultural da sociedade, mas só no domingo senti verdadeiramente todo esse poder. Minha música foi capaz de mobilizar as pessoas em prol de um objetivo único: “Dias de Paz”. E agora quero mobilizar cada vez mais pessoas para essa causa nobre. Causa regida pelos verdadeiros valores e essência humana: O AMOR.

Assista, com exclusividade, trecho do vídeo clipe oficial “Dias de Paz”:

*Marcos Santos: artista gentilmente cedido pela “Associação dos pintores com a boca e os pés Brasil” (www.apbp.com.br)