E não é que a vida sempre nos reserva grandes surpresas! Em um dia que não estava muito bem e ficaria em casa – home office com toda a comodidade e conforto que isso permite -, minha presença se fez necessária, no escritório, para resolver algumas pendências de um projeto que estava sob minha coordenação. Lá fui eu pegar o trem e encarar uma caminhada, que precisou ter o passo apertado para chegar a tempo de escapar de ser lavado por um temporal. Consegui! Em pouco tempo tudo resolvido e o pensamento de: “Nossa, agora encarar tudo de volta, e no horário de pico. Que desânimo!”.
Mas em meio aos assuntos de trabalho o amigo Murai retomou um tema que havíamos começado a discutir em troca de e-mails durante a semana: a produção do meu site e mais alguns trabalhos para a elaboração de artes para a capa do EP e também divulgação do projeto musical. Nos conhecemos de longa data, desde o primeiro ano de faculdade, e sempre trabalhamos muito bem juntos. Fiquei feliz com o acordo firmado. Mais um amigo competente ao meu lado nessa caminhada por um sonho de vida.
Tudo acertado encontrei-me novamente diante do dilema da longa e penosa volta para casa, afinal, a chuva não deu trégua durante todo o dia e a cidade estava um caos. Lembrei-me então de um evento na Jonny Size São Paulo. Entrei no Google e tracei o roteiro do escritório até a loja. E não é que era pertinho! As opções eram encarar um ônibus lotado com previsão de 45 minutos até chegar ao meu destino ou curtir uma caminhada de 30 minutos sob um clima ameno e livre da claustrofobia inerente ao trabalhador brasileiro. Como nem sempre posso escolher pelo o que mais gosto, aproveitei a chance: fui caminhando e refletindo sobre a vida.
Um pouco triste por não ter ao meu lado a companheira de todos os momentos, Priscila Cunha, e também meus pais, que adorariam estar novamente na Jonny Size para verem as novidades e principalmente compartilharem do carinho e amizade doados por Daniel Lima e Evelyn Tamie Hirose. Cativantes na maneira de atender e vender, mas melhores ainda como anfitriões de pessoas cheias de boas energias e intenções. E era isso que estaria experimentando em mais alguns instantes.
Além das saudações calorosas também recebi a cobrança que tenho ouvido com frequência dos amigos: “E o CD, quando saí?”. Confesso que gosto. E a pergunta era pertinente, não só pela fase final do projeto do meu EP, mas também pelo evento musical prestes a acontecer: o pré-lançamento do Projeto Stereo Bago “Aí tem”, apresentado por Yanick Melo e Luciano Rocha.
A primeira boa surpresa da noite foi encontrar o amigo Sidnei Barros, trompetista que tocou comigo por alguns anos na Fabulosa Banda Do Curinga. Para saciar a fome e colocar o papo em dia fomos à padaria da esquina comer algo enquanto conversávamos sobre os rumos na vida de cada um. De volta ao palco daquela noite sou cumprimentado com entusiasmo por um dos personagens do espetáculo que estava por vir. Yanick me trata como um velho amigo, sorriso aberto e alma resplandecente que me enchem de alegria e entusiasmo. Sua ansiedade está estampada, mas também há muita felicidade e energia positiva emanando daquele corpo.
Em pouco tempo o lugar ficou lotado e o adiantado da hora não permitiu mais hesitação. Com fome de leão a banda atacou e o mensageiro externou toda sua essência com voz rasgada e força que me fizeram arrepiar. Que VIBE empolgante! Som que pulsa e faz o sangue fervilhar. E o mais belo dos fatos era ver juntos pai e filho compartilhando ideologia, amor e alma. O baixista carismático, competente, puro feeling e extrema habilidade técnica é pai de Yanick. Comoção que envolveu todos os integrantes da banda, que em sinergia poderosa colocaram para tremer aquele quarteirão do Itaim, com certeza espantando para bem longe qualquer mal que atreveu se aproximar dali naquela noite.
Passei o dia seguinte ao som do Projeto Stereo Bago, e além do conteúdo de qualidade o trabalho está foda, com o perdão da palavra. Puta som! Não sei mais onde acumular tanta energia. O som invade sem pedir licença. Por algum momento até me intimidei e pensei: “Meu som não tem essa energia. Ele pede licença e é sutil. Meu som não vai fazer esse barulho e mexer com as pessoas dessa maneira”. Coloquei em cheque meu trabalho. Insegurança normal de um novato a espera de aprovação e sinal de cumplicidade das pessoas, acredito.
Não cabe comparação. E nem foi essa a minha intenção, mas bateu uma insegurança ao ver o lugar repleto e todos atingidos direto nos corações com tanta energia e personalidade. Esse cenário me fez questionar o propósito e impacto que minhas músicas causarão nas pessoas. Quero muito me conectar a essência de todos e mostrar que é preciso refletir e olhar para o mundo em volta. Logo essa insegurança passa e só vai ficar a ansiedade de ter os papéis invertidos, quando passarei de expectador para o centro do palco como mensageiro que, de peito aberto e muita coragem, expõe sua verdade e sentimentos aos julgamentos e expectativas do mundo.
“Acordo todo dia renovado e apaixonado pela vida / Ciente dos meus valores e essências / Ainda realizado pelos sonhos de uma noite / Dormida, tranquila…” – trecho da música “Inspiração Divina” (inédita)