Ao lado de Dôdi, no show de sábado na Funarte SP, impossível não me sentir privilegiado por contar com sua amizade e reviver a reflexão que me proporcionou quando nos conhecemos: do real sentido de superação, dedicação, amor à vida e à música.

“Me recolhi em minha insignificância diante desse ser humano fantástico e seu lindo trabalho. Sobre o seu acidente não me importei em saber detalhes, tão pouco lamentei o que passou, lição instantaneamente aprendida de frente ao seu sorriso e brilho no olhar. O que importa não foi como caiu, mas a maneira como levantou e seguiu. Isso mesmo, levantou e seguiu, contrariando as pernas que já não respondem. Mostra da força de sua alma guerreira, capaz de fazê-lo caminhar em direção aos nossos corações.” – em 17 de junho de 2015, quando assisti ao seu ensaio com a banda pela primeira vez.

O show

Dôdi e eu em show na Funarte SP (03.10.2015) l Foto: Priscila Cunha

Dôdi e eu na Funarte SP (03.10.2015) l Foto: Priscila Cunha

A noite era dele, mas sua generosidade abraçou muitos. Dôdi, mais uma vez, nos deu mostra do seu amor pela vida, da sua paixão pela música e da alegria que transborda em seu olhar quando está em cima do palco. Cheguei cedo, preocupado em não atrapalhar a programação para o show e disposto a ensaiar com ele a música que cantaríamos juntos. Mas, não foi o que aconteceu. rs

Para garantir que o show aconteceria foi preciso deixar o violão de lado e ajudar na montagem de toda a estrutura. Estávamos atrasados e a correria foi grande. Muitos problemas de estrutura foram superados até que pudéssemos começar. O pedido de desculpas, de quem se preocupa com o público, foi seguido de um lindo show que fez a espera valer a pena. Pelo menos foi essa a impressão ao vermos na plateia sorrisos abertos e olhares vidrados em direção ao palco.

A parceria entre Victor Simar e Dôdi deu início ao show. De voz potente e romantismo que embala a vida de todos que experimentam as delícias e dores de se estar apaixonado, Victor apresentou suas belas canções. A cumplicidade entre eles era linda de ver. E eu, como um “estranho no ninho”, me concentrava para dar o melhor de mim e justificar minha presença ali.

As palavras carinhosas de Dôdi me deixaram à vontade para aproveitar o clima intimista deixado por Victor. “Não deixe de viver” propõe a reflexão sobre os sonhos que deixamos para trás, sonhos que Dôdi e eu insistimos em perseguir. Para dizer sobre nosso olhar sensível ao outro cantei “Além do Espelho”. Com “Dias de Paz” encerrei minha participação, deixando o astral lá em cima e contando com toda a musicalidade de Dôdi no improviso vocal.

A felicidade em viver, o amor e a reflexão são características marcantes do som de Dôdi. Suas melodias fluem com extrema naturalidade e contagiam em um show alto astral. Ainda pudemos ouvir Eric Brandão, guitarrista da banda que mostrou desenvoltura, swing e muita criatividade ao nos apresentar uma música sua. Allan Allencar foi o último convidado da noite, dividiu os vocais com Dôdi em uma apresentação que emocionou. Tudo conduzido de maneira primorosa por uma banda incrível!

Com um “bis” que não acabava mais, Dôdi parecia não querer deixar o palco, local onde justifica seu poder de superação diária. Sua história já valeria o ingresso, mas Dôdi não se faz de vítima ou usa de sua condição como cartaz. Talentoso e comprometido com a arte, sua produção tem verdade, qualidade e, sobretudo, relevância de ser. Tive a oportunidade de dizer isso para um pai emocionado ao final do show. Emoção que me contagiou ao receber seu abraço e ouvir suas palavras de elogio ao meu trabalho.