Quando recebi a primeira versão da música de trabalho do meu EP, que estava 60%/70% concluída, já se passavam dois meses desde o final das gravações e a expectativa, que antes era quase insuportável, deu lugar a um sentimento ameno e uma consciência de que tudo tem o seu tempo, ainda mais quando envolve um trabalho complexo de mixagem. E com certeza o processo de um trabalho independente é ainda mais demorado, pois conta com poucos recursos e a boa vontade dos amigos, quase sempre envolvidos com outras prioridades.
Mas existe o lado positivo de tudo isso, que é o sentimento verdadeiro de todos os envolvidos, que mais do que um trabalho, abraçam uma causa e compartilham do meu sonho de vida, e espero que minha realização os ajude a alcançarem seus objetivos e felicidade também. Caminhamos de mãos dadas e com sentimentos verdadeiros.
Com tudo isso em mente dei o play sem muitas expectativas. Me surpreendi com minha falta de ansiedade e desapego. Devo ter ouvido a música umas 03 vezes naquele dia. Estava no trabalho e não pude dar muita atenção aos detalhes. Passei a música para o celular e pensei: “Bom, no percurso até em casa, que leva cerca de 01h30, terei tempo para me desconectar do mundo e ouvir todos os detalhes, todos os timbres, volumes e ver se estamos no caminho certo”. Mas fui tomado por uma grande frustração, já que meu celular não aceitou o formato do arquivo.
O pensamento então se conformou: “Chegando em casa eu ouço”. E mais uma vez a frustração veio. Não consegui abrir o arquivo em nenhum computador de casa. Agora o sentimento voltava a ser de grande ansiedade, pois tentava me lembrar da música ouvida durante os afazeres do trabalho e não me vinha muita coisa, só uma insegurança enorme de que a voz não me pareceu muito legal, e que talvez o baixo pudesse ceder um pouco mais de espaço para a guitarra e a batera vir mais pra frente… E as cordas, como teriam soado as cordas? Não me lembrava de nada, e essa angústia parece ter me consumido durante toda a noite, mal dormida.
Até que de volta ao trabalho no dia seguinte, deixei os afazeres para depois e me concentrei em ouvir os caminhos pelos quais minha música estava seguindo. Nossa, com certeza estou chegando a um lugar lindo. Os timbres estão muito bonitos, os volumes me agradaram em cheio e a angústia deu lugar a um sorriso aberto, aos pelos dos braços arrepiados, aos olhos cheios d’água e a sensação de flutuar.
Ainda não era o momento de prestar atenção na voz, mas isso é coisa que se peça ao intérprete e compositor? Óbvio que me prendi a voz em alguns momentos e me deparei com a sensação de alguém inseguro do outro lado. Lembrei então do dia da gravação das vozes. Estava uma pilha, quem me conhece sabe que sou contido em meus gestos e falas, mas naquele dia não parava quieto e falava muito. O coração disparado quase saia pela boca. E essa foi a primeira música que gravei. Com certeza ela carrega toda essa carga emocional, e se a parte técnica deixa um pouco a desejar, sua força está justamente no impacto provocado pelo exorcismo de toda essa pressão interna.
Ouvi atentamente várias vezes e a percepção mudou. Ouço alguém empolgado e cantando com uma garra absurda cada palavra da mensagem que a letra traz. Lembro de ter fechado os olhos e deixado me levar pela música, pela letra. Dancei, me abracei, quase chorei… Está tudo na música, está tudo nessa voz trêmula, mas cheia de vontade, de felicidade e que buscou ser o mais transparente possível. Talvez esteja sendo muito crítico, ainda mais porque o trabalho não está finalizado, mas esse é o meu papel, buscar a excelência para que vocês tenham o melhor de mim, o melhor da minha música, o melhor da minha alma e se sintam motivados a espalhar a mensagem por ai acreditando em “Dias de paz”.
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