Vamos lá! Tentando retomar os trabalhos em meio aos gritos que vêm da rua. Essas são as armas que temos: a voz e atitude. Mas que a atitude seja a do dia a dia, sem máscaras ou trajes que montam um personagem para a batalha noturna. Agora, se no seu cotidiano as atitudes são de hipocrisia, manipulação, dissimulação, preconceito, egoísmo e mesquinharia, sem dar voz a sua essência, não tem meu crédito. Em casa ou nas ruas a mudança deve estar dentro de você. Não fui pras ruas! O por quê? Não sei ao certo. Talvez por já ter despertado há muito tempo e ter adotado o amor, a humildade e a arte como armas para a transformação que quero.
Não sou de embate, sou de tolerância e amizade. Mas reconheço que a força às vezes se faz necessária. E onde sou mais forte é em expressar minha essência nas palavras e nos pequenos gestos diários, acreditando nos seus poderes revolucionários. Minha luta é para levar às pessoas minha música, minha mensagem que fala direto ao coração, esperando despertar todos onde realmente é necessário: na essência e nos valores. Feita esse pequena introdução, importante e necessária para evidenciar meu apoio aos que são sinceros em suas reivindicações e justificar minha batalha “solitária” para colocar nas ruas a minha revolução, volto a prestar homenagem singela aos que estiveram ao meu lado até aqui, pois o sonho vivido sozinho permanecerá sendo sonho, e a felicidade quando não compartilhada não será verdadeira.
Eis que em um ato como o que presenciamos atualmente as pessoas muitas vezes são convidadas a participarem sem terem muita certeza do que encontrarão. Imagino que foi assim que Mauricio Hoffmann e Rafael Reis se sentiram ao serem convocados a participarem da minha revolução: a gravação do meu EP. A sensação de cegueira temporária também se abateu sobre mim, afinal, não sabia se eles entenderiam e apoiariam minha causa ou se simplesmente seriam vândalos sem qualquer comprometimento. Não os conhecia, nunca os tinha visto. A agenda e verba para o projeto não me permitiriam muitos ensaios e tempo para criar intimidade e vínculo. Fato que me preocupou muito por acreditar que o meu som é intenso na mensagem e exige mais da alma do que da competência técnica. Estarmos na mesma frequência seria fundamental.
Depois de meses trabalhando na pré-produção das músicas, e ouvindo de Paulo Gianini que esses eram os caras certos para gravarem comigo, pude conhecê-los. Diante de tamanha certeza não duvidei um segundo do profissionalismo desses dois, mas como dito anteriormente, me preocupava a falta de intimidade e a entrega deles. Arrisquei logo de cara ao propor um churrasco para confraternização. Devido à origem gaúcha de ambos achei que seria uma boa para iniciarmos nossas relações, mas em caso de um churrasco mal feito poderia colocar tudo a perder (rs). Quando se trata de churrasco os gaúchos são exigentes na manutenção das tradições, foi o que me garantiram. Para o meu alívio, não só surpreendi pela qualidade e o ponto das carnes, como também apresentei para eles a asinha de frango temperada, o espetinho de queijo coalho e o pão de alho. Os conquistei pelo estômago. E eles me cativaram por sua simpatia, humildade e vontade de fazer acontecer.
O Maurício extremamente extrovertido, alegre e carismático provocava uma risada atrás da outra, seu riso é contagiante. Que energia! O Rafael já mais contido, de fala calma e mansa, me conquistou com sua ponderação. Uma lucidez! Mais tarde ficaria arrepiado ao ouvir como suas personalidades eram transferidas para os instrumentos. A postura ao tocarem e a sonoridade de cada um traduz exatamente o que conheci naquele primeiro dia de convívio. Fiquei feliz quando o Rafael me disse mais ou menos assim: “As músicas são todas suas? Composições próprias? Dá para perceber que é uma coisa bem sua. Isso é muito legal, um trabalho original e intenso. Hoje a maioria não compõe o que canta”. Senti que estava no caminho certo e que havia potencial para tocar as pessoas.
No dia marcado estávamos todos reunidos para o primeiro dos dois ensaios que faríamos antes das gravações. Todo o receio e ansiedade evaporaram logo na primeira música. A química entre nós foi fantástica! Como imaginei, eles se mostraram profissionais totalmente preparados, realmente são muito bons. O Maurício sentando a mão na bateria com uma energia absurda. Sonoridade explosiva e swing contagiante! O Rafael buscando na guitarra os sentimentos expressos nas mensagens, com toque macio, sonoridade elegante e sofisticada. Extremo bom gosto! Arrepiei e emocionei! Os olhos encheram d’água. O melhor foi sentir a entrega deles para o projeto e para cada palavra cantada. Puro feeling! O resultado ouvido por todos ao final dos dois dias de ensaio foi de uma banda que parecia estar junta há anos.
Surpresa e satisfação que tranquilizaram e me fizeram crer, finalmente, que o tempo é suficiente quando há amor pelo o que se faz e cumplicidade entre as pessoas envolvidas. Obrigado pela entrega e comprometimento de vocês. Em breve todos poderão comprovar o que digo. Aguardem!
“Refletir me faz evolui”
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