Oficialmente apresentado ao mundo meu desejo por “Dias de Paz”. Talvez coubesse o clichê “meu grito por dias de paz”, mas o grito agride e não é do meu feitio, sou mais da fala mansa, pra dentro, no máximo arrisco uma linha melódica um pouco mais alta, mas ainda assim permaneço no trato doce com os ouvidos e a garganta. Isso não quer dizer que não me irrite e queira explodir às vezes, mas por algum motivo engulo tudo e quando o estômago parece não aguentar mais acumular tanto sofrimento, o que faço? Canto, ouço e toco música: as palavras fluem e lá estou eu falando sobre a essência que existe em mim, que existe em você e em todos os outros milhões, bilhões, trilhões de pessoas na face da Terra. (já chegamos aos trilhões ou exagerei um pouco? rs)

O fato é que percorri um longo caminho até aqui e trago em mim, além do estômago cheio das angústias e frustrações dessa vida, o coração repleto com a esperança natural do ser humano e muito do que as pessoas que passaram por meu caminho me ensinaram e entregaram. E antes que pudesse chegar o momento de abrir o peito ao mundo e o estômago aos desafios que ainda virão por aí, foi preciso me esvaziar de tudo, exorcizar medos, angústias, pressão e renovar a crença no trabalho feito até então. Sem ter consciência de tudo isso o plano foi correndo como havia pensado.

Para o pré-lançamento do EP, e tudo o que viria, não poderia ter ambiente melhor que a loja da Jonny Size, em São Paulo. Para um marketeiro a estratégia perfeita ao se pensar num público que poderia se identificar com meu som. Para mim, a oportunidade de estar à vontade e cercado de pessoas de bem que comungam com meu desejo. A estrutura só permitiu contar com a presença de alguns envolvidos no projeto, parentes próximos e os amigos mais íntimos. Não havia o que temer, quer ambiente mais familiar do que esse? Mas o que se deu foi o contrário. A boca seca, as pernas bambas, o estômago revirado e um peso nas costas que não poderia ser só meu!

A banda entra com vigor e aumenta ainda mais a minha expectativa. Recolhido em um canto escuro espero o momento exato para me apresentar. Por pouco não me entreguei naquele momento. Respiro fundo e deixo os passos me levarem. A voz é ofegante, trêmula e me irrita. Não podia decepcionar tantas pessoas que acreditaram em mim, que me apoiaram e estavam ali prontas para me ovacionar. Show que segue e não há como relaxar, não há como me entregar ao meu sonho. Surge uma brecha para respirar, mas ao invés de aproveitar me ponho a dizer o que vem do coração, o que vem do estômago. Estava ali na frente de tantos fazendo o mesmo que é de hábito fazer apenas em meu quarto quando purifico meu ser e digo das coisas que vêm do fundo da minha alma. Pronto, correram as lágrimas e já não foi possível me conter. Era forte, intenso, doloroso, vergonhoso e um alívio tremendo. Tudo ao mesmo tempo trancando meu peito e garganta. Pensei que num mesmo instante se deu o começo e o fim do meu sonho, da minha missão.

“Fracassei” era a palavra piscante em minha mente. “Engole o choro!”, ordenei em pensamento. Foi um turbilhão! Mas por algum motivo, que ainda não sei explicar, segui em frente! Ao final a cobrança pelo ocorrido parecia ser só minha. Os amigos presentes me abraçavam e cumprimentavam agradecendo por aquele momento onde eu os havia presenteado com o clímax da fusão entre arte, sentimento e mensagem. Mesmo com tanto carinho a noite que seguiu foi de pouco sono e muitas cobranças. Na minha cabeça eu havia fraquejado. Mas não havia muito o que lamentar e tão pouco tentar entender. Dalí exatamente um mês aconteceriam os shows para o lançamento oficial do EP. E foi o que fiz, trabalhei e ocupei a cabeça.

Só agora, passados os shows de lançamento, quando me propus a escrever sobre o que aconteceu no último fim de semana, me dei conta da importância dos fatos ocorridos no pré-lançamento. Se o lançamento foi pura diversão, alegria e só boas vibrações é porque o que me pesava ficou lá atrás, quando pessoas queridas e comprometidas comigo compartilharam o ápice da minha angústia, da devoção ao meu sonho e a minha arte. Daqui para frente o trabalho será ainda mais duro e penoso, mas estou de estômago vazio e com o coração ainda mais repleto de amor. A minha entrega aos sentimentos foi a mesma no lançamento oficial, porém, não me sentia mais em dúvida quanto ao meu trabalho e missão. Emocionar é parte fundamental de mim.

Taí, divida paga! Post sobre o pré-lançamento finalmente saiu. Já tinha desistido de fazer um registro sobre aquele dia, mas parece que aquele dia se fez registrar além das minhas memórias. Ótimo! Fico feliz de ter escrito sobre ele. No próximo post a segunda parte dessa história com o relato sobre os shows de lançamento oficial do EP. Um resumo rápido: FORAM LINDOS =)

continua…