Um cara que além da parte técnica, também contribuiu muito no lado afetivo e mental: Paulo Gianini. Confesso que quando tive a oportunidade de conviver mais de perto com ele nunca passou pela minha cabeça que um dia estaríamos tão próximos. Com certeza ele chamava a atenção na Fabulosa Banda do Curinga quando o assunto era técnica, presença de palco e feeling. Lembro que a cada novo show, um novo solo era executado em “Meu melhor chapéu”. E o que dizer da introdução de “O curinga cantou”? Linda!

Eu que tinha Lars Ulrich, baterista do Metallica, como referência de empolgação e entrega em cima do palco, nunca imaginei que teria meus olhos atraídos para um tecladista que se apresentava, geralmente, vestido de paletó e gravata em contraste com a cabeleira esvoaçante. O contato ainda era distante, com poucas palavras trocadas entre nós e observação a distância, da minha parte. Autoconfiança elevada, gestos expansivos, extremamente exigente, fala articulada com posicionamento incisivo e taxativo. Totalmente oposto a mim.

Quando do convite para fazer parte da banda, em 2009, a certeza de que teria que passar por sua avaliação. Até hoje não sei quais foram suas primeiras impressões sobre mim, seja como baterista ou como novo integrante. Também nunca fiz questão de perguntar, talvez por receio da sinceridade que sempre emprega em suas respostas.

Por um bom tempo nos mantivemos em contato apenas trivial, restrito aos ensaios. Até que passamos a compartilhar o mesmo tempo e espaço, numa espécie de revezamento de carona. O som do carro fazia o papel de manter nossos ouvidos preenchidos durante o caminho. Poucas palavras eram trocadas. A coisa foi melhorando com o passar dos dias, não havia outra hipótese. Além da paixão pela música descobrimos outro sentimento em comum: a paixão pela culinária. Nem tanto cozinhar, mas sim degustar (rs).

Experiências gustativas eram relatadas com extrema preocupação aos detalhes e a boca cheia d’água. O grau de intimidade evoluía aos poucos e começávamos a falar e a ouvir insatisfações, angústias, felicidades, confissões, planos… Meu novo amigo se mostrava determinado e consciente do que queria. Sua relação com a música começava a extrapolar os palcos. Acompanhei de perto o esforço para viver da arte. Inspirador! Chegamos a fazer dupla no teatro: ele como diretor musical e eu, convidado a ser, seu assistente.

Ainda em formação surgem as primeiras experiências como produtor musical e engenheiro de som. O natural seria ter dentro da Fabulosa Banda do Curinga o apoio e confiança necessários para desenvolver suas novas habilidades e ambições, porém, pela banda já ter passado da fase de experimentações e querer um trabalho definitivo para se destacar no cenário, a pouca experiência não atenderia as necessidades do grupo naquele momento. Mas para mim pareceu uma ótima oportunidade. E acho que ele pensou o mesmo.

Já havia mostrado algumas das minhas músicas para o pessoal entre um ensaio e outro. Não lembro ao certo como se deu a situação, mas foi justamente uma das minhas músicas que o Paulo quis produzir para apresentar no trabalho de conclusão do curso de áudio. Topei! A felicidade de ambos era evidente. Eu totalmente surpreso ao ouvir minha música muito bem produzida, e ele pela confiança que lhe foi depositada.

Chegamos então em Fevereiro de 2012. A banda patinava e não saía do lugar em meio à pré-produção do segundo álbum e impasses sobre a realização de shows. Sem muitas perspectivas resolvo voltar ao mercado formal de trabalho na área da minha formação – Publicidade e Propaganda. Dias depois de estar novamente inserido no ambiente corporativo chamo o Paulo para conversar.

Não poderia ser diferente, a conversa aconteceu durante um jantar. Um jantar mexicano. Perguntei: “Paulo, estou trabalhando e contarei com uma renda fixa a partir do próximo mês. Quanto preciso para gravar um EP com 05 faixas produzidas por você?”. Os valores do seu trabalho foram incluídos no orçamento de maneira simbólica e eu garanti que faria de tudo para termos a melhor estrutura possível para que ele realizasse um grande trabalho. De lá para cá nos abraçamos em apoio simultâneo, com confiança compartilhada no talento de ambos.

Valeu grande amigo e profissional competente =)