O que esperar de uma segunda-feira a noite? Muitas coisas, dependendo do que se faz e com quem andas. Mas de modo geral, e vamos generalizar bem, a noite de segunda-feira é meio sem graça, preguiçosa por uma semana que apenas começou, já que muitos estão descontentes com seus trabalhos, carreiras, relacionamentos familiares e amorosos, muitas vezes insistindo em apenas sobreviver.
Porém, há quem escolha viver. E nessa segunda-feira, 18.08.2014, me vi rodeado por pessoas que escolheram viver, se permitindo entregar plenamente às emoções provocadas pela música do Projeto Capela. Felizmente, há algum tempo já me permito viver, se ainda não plenamente, o esforço é para que os sentimentos e a paixão prevaleçam sobre a razão na maioria das vezes. E foram esses sentimentos que me levaram ao Teatro Tucarena depois de um dia cansativo.
Confesso, mais uma vez – parece que o Blog tem se tornado meu confessionário – , não ter profundo conhecimento sobre o Capela até essa segunda-feira. No show só consegui balbuciar alguns trechos da música “Simples Assim”. O som dos caras me foi apresentado no ano passado pela minha namorada que, por sua vez, os conheceu por influência da sua irmã. Algumas audições no SoundClound e visualizações no YouTube me causaram ótima impressão, suficiente para dar um “curtir” na Fan Page e passar a acompanhar os seus passos. Mas por ainda estar oscilando entre momentos que precisava garantir minha sobrevivência e momentos em que me permitia viver, não fui fisgado pelo “Canto da Sereia” naquela ocasião.
Enquanto lutava para seguir meus sentimentos em detrimento da razão, e do que os outros esperavam de mim, acompanhei o trabalho do Capela a distância, apenas como um colega sensibilizado pelo belo trabalho de artistas independentes como eu, condição que tem nas redes sociais sua arma mais poderosa para divulgação. Sei o quanto um novo “curtir” na Fan Page pode ser a injeção de ânimo necessária para seguir adiante em um caminho repleto de obstáculos. E foi essa minha intenção, incentivar a continuidade do belo trabalho deles.
Virando fã
Muitas coisas aconteceram até que eu chegasse ao Tucarena nessa segunda-feira. A mais marcante, “De Fato”, foi o lançamento do meu EP , momento a partir do qual me permiti viver. “Eu vi que quando” esse novo “Ciclo”* da minha vida teve inicio, passei a notar ao meu redor, mais próximo do que poderia imaginar, pessoas com a mesma sensibilidade que a minha nutrindo a esperança por um mundo melhor, lutando para disseminar o amor em forma de música e poesia. Desperto e enxergando muito além do “Espelho”, solto o corpo e “Vou me embora pra” onde meus passos me levarem. Passo a ouvir na música do Capela um eco do que eu também cantava a plenos pulmões: a necessidade do resgate dos verdadeiros valores e essência humana.
Desde o início desse ano venho acompanhando com alegria o crescimento do Capela. Mais ainda por perceber que esse crescimento tem se dado de maneira totalmente orgânica, como “ilustrou” o vocalista Gustavo Rosseb ao contar sobre o primeiro show do grupo, quando ele desenhou um circulo ao redor do nome Capela simbolizando o raio de alcance inicial do projeto: amigos e familiares.
O Gustavo seguiu contando que um segundo circulo foi feito em volta do primeiro, representando dessa vez: os amigos dos amigos. E por fim, um terceiro circulo, independente dos demais, foi desenhado ao lado: eram as pessoas que conheceriam o trabalho do Capela sem que houvesse qualquer vinculo direto com seus integrantes, amigos e familiares. Não poderia haver ambiente melhor para que eles se dessem conta de que o terceiro estágio fora atingido. Do palco circular do Tucarena eles já não podiam distinguir quem era quem naquele grande circulo que os abraçou com muito amor e carinho. Foi lindo de ver =)
O show
A atmosfera não poderia ser melhor. De cara já se sentia um sopro de alegria invadindo o peito pela boa ação proposta: para assistir ao show era preciso doar 1Kg de alimento não perecível ou 1 agasalho. O “Tiquetaqueando” do relógio acusava o atraso de quase meia hora para o início da apresentação, fato perfeitamente justificável e aceitável: o público simplesmente não parava de chegar. E se para os atrasadinhos os lugares atrás da banda não eram os melhores, imagino a alegria do Capela ao entrar no palco e ver aquela arena praticamente lotada.
Ao toque do terceiro sinal o silêncio ansioso se instalou na platéia, quebrado logo em seguida pelos aplausos calorosos que receberam Léo Nicolosi. Primeiro integrante a se posicionar no palco, Léo “vestiu” sua guitarra Gibson Les Paul e acionou os efeitos da imensa fileira de pedais, responsáveis por nos fazer quase flutuar em um som espacial, “molhado” e cheio de coloridos. Carismático, distribuiu sorrisos e thauzinhos para a platéia.
Em seguida foi a vez de Caio Andreatta, também recebido com aplausos calorosos do público. Aparentando ser mais reservado e até um pouco tímido, tomou lugar ao lado do seu arsenal instrumental que continha um violão, uma guitarra Gretsch (linda), um ukelele e um bandolim. Timbres explorados com extremo bom gosto por lindos caminhos harmônicos. Arranjos perfeitos!
Completando o trio, Gustavo Rosseb recebe com enorme carinho os aplausos. Dono de uma bela voz, bem colocada, e com lindo trabalho de falsetes, usa de toda a sua desenvoltura para tomar conta do palco. Logo extrapola esses limites para passear por toda a arena e se encarregar de não deixar que sintam-se excluídos aqueles que estavam sentados atrás da banda. Buscando os olhos das pessoas, Gustavo rompeu qualquer barreira que pudesse se colocar entre eles e revelou a intimidade do Capela, nos fazendo desfrutar da mais genuína manifestação artística: a exposição do coração e da alma sem receio ou pudor, despertando sentimentos genuínos e reflexão profunda.
Com a banda toda no palco o que pude presenciar foi um lindo espetáculo. O quarteto de metais foi simplesmente fantástico, dando brilho e peso com linhas melódicas e aberturas de acordes precisos, além dos passos “ensaiados” em um estilo alegre de balé sem qualquer privação dos sentimentos provocados pela música do Capela. E o que dizer do trio baixo, bateria e teclado? Super entrosados, os músicos se soltaram e apresentaram a mistura perfeita entre técnica e “feeling”. A banda inteira cantou, sorriu e viveu com intensidade aquele momento. Quando todos no palco acreditam e curtem o trabalho é bonito de ver.
Se o Gustavo não tivesse dito sobre as “borboletas em seus estômagos”, eu não desconfiaria que estavam nervosos, tamanho o domínio do palco. Os quase dois anos percorridos até aquele momento desde o lançamento do CD, em outubro de 2012, com certeza são responsáveis por essa postura tão segura e ao mesmo tempo leve e solta. É nítida a evolução. E se o nervosismo passou desapercebido, o entusiasmo e euforia escancarados contagiaram a todos. Que coisa boa!
Enquanto as pessoas se soltavam a medida que a dinâmica do show crescia, eu, ao contrário, me recolhia e apreciava hipnotizado. Me deixei invadir pelas lindas melodias e fiz questão de perceber cada detalhe daquela engrenagem capaz de lotar um teatro em plena segunda-feira a noite. Não só lotar, mas principalmente fazer sorrir, cantar e emocionar como poucas vezes pude presenciar. Era uma platéia totalmente entregue às Deusas Música e Poesia manifestadas em sua plenitude pelo Capela.
Reflexões
Mas como é de costume, ao mesmo tempo em que fui arrebatado por lindos sentimentos ao presenciar um momento tão especial na vida do Caio, do Gustavo, do Léo e de todos que de alguma maneira fazem parte da família Capela, também me afoguei em interrogações sem fim sobre o meu trabalho, concluindo que ainda há muito o que evoluir para merecer ter um dia como esse para mim e as pessoas que me cercam.
Fácil é elogiar e me inspirar em artistas consagrados e anos luz à minha frente como Lenine, Otto e outros que já foram temas de posts anteriores aqui no Blog. Ou então contar sobre a realidade de artistas independentes que se encontram em um estágio parecido com o meu. Difícil é ver diante dos olhos a materialização de um sonho que também é meu e questionar: “quando será a minha vez?”. Resposta que somente o “Famoso Tempo” revelará. (ouvi burburinhos na platéia de que o Capela teria se apresentado na Prainha no ano passado, pátio que fica entre os dois prédios do campus Monte Alegre da PUC – SP. Amanhã me apresentarei por lá com o amigo Frã Finamore. Quem sabe não estarei no Tucarena ano que vem?)
Mérito total ao Capela, que em sua caminhada até aqui já tem tantas conquistas. E com certeza alcançará outras ainda mais importantes, se é que podemos qualificar em grau de importância cada conquista, afinal, todas são degraus para a próxima. Fato é que o Capela se tornou o “Farol” que irá me nortear pelo nevoeiro denso que paira sobre esse mar revolto que escolhi navegar. Agora como fã declarado, terão de mim todo o apoio e carinho necessários para continuarem subindo até a estrela mais alta ainda não descoberta.
E se meus “Versos Rasos” ainda não me permitem estar no mesmo patamar musical e poético que o de vocês, no choro do Léo está a certeza de que meu dia vai chegar. Chorei essas mesmas lágrimas de felicidade no show de pré-lançamento do meu EP. Me fizeram prometer que nunca mais choraria no palco, mas receio que quebrarei essa promessa quando o meu dia chegar, pois assim como vocês do Capela, deixo meu coração e alma expostos no palco. Sou “Rei de Mim”!
*Como não encontrei meios de encaixar o título da canção “When you star will shine?” no texto, muito por conta do meu inglês fraquíssimo, substituí por “Ciclo”, tudo bem? rs
Abraço de urso
atualizado em 29.08.2014
Mais uma vez Capela! Ontem o show foi mais intimista. E além da troca de CDs, pude novamente vivenciar as trocas de energia positiva e sentimentos verdadeiros que público e Capela transbordam. Os caras são gente boa demais =)
Finalmente recebi o abraço sincero e de quebrar costelas prometido pelo Gustavo. E com a mesma verdade e intensidade pude cumprimentar o Léo e o Caio. São todos de uma simpatia, generosidade e humildade incríveis. Cativam pela música e pela alma!
Impossível não ter as energias e esperanças renovadas após o dia de ontem. Seguirei firme em meu caminho e propósito para que possamos, um dia, desfrutarmos de “Dias de Paz”.
Capela, obrigado pelo carinho comigo e meu trabalho.
Rapaz. Aqui quem fala é o Gustavo Rosseb, vocal do Capela.
Bicho! Que texto é esse? Tão palpável, como se os segundos que passaram pela gente naquele teatro fosse um objeto que se possa ter nas mãos; ao mesmo tempo tão sentimental, algo como um pensamento, solto de leis de tempo e espaço.
Confesso que antes da metade eu já estava chorando. Bom. Eu tenho que agradecer esse carinho e admirar esse observar, com tudo o que tenho, por que me faltam palavras a altura e isso não é mentira.
No dia do show, o Fernando Tadeu trouxe seu disco até nós no camarim e disse que gostaria de fazer uma troca de discos. Vimos a dedicatória e ficamos felizes com a mensagem. Bom, dali em diante, não conseguimos avisar a galera da lojinha pra, caso pedisse lá, que levasse um nosso.
Seu disco ficou na mochila do Léo e ontem eu comentei com ele: Léo, a gente tem q mandar um disco pra aquele tal de Théo que nos deu o disco dele lá no camarim. Você pode fazer contato com ele? O disco ta aí contigo.
Hoje de manhã o Léo me passa esse link e eu me deparo com essa coisa toda louca aqui.
Poxa rapaz, vamos ás considerações:
Patamar é questão de tempo… Tempo não, ponto de vista.
Pensar em voar, para muitos, parece impossível, mas o impossível é só questão de alcançar.
To indo já conhecer o seu trabalho e assim que te encontrar pessoalmente, te darei um abraço sincero e de quebrar costelas, por essa humildade.
Nessa vida, os caminhos das pessoas cruzam-se devido a afinidade de caráter.
Um grande abraço, muita luz em seu caminho e gratidão.
🙂
Gustavo, o que posso dizer que não seja mais do mesmo já dito em meu texto?
Ainda não acredito ter tirado de um escritor tão talentoso as palavras. rs Me arrepiei e os olhos encheram d’água logo após meu despertar pela manhã. A mania dessa nossa geração super conectada, que mesmo antes de levantar da cama já pega o celular, me fez ver, após conferir as horas, notificações em minhas redes sociais. Para minha alegre surpresa eram mensagens e comentários seus e do Léo. Despertei imediatamente e o sorriso foi abrindo a cada palavra lida e a constatação daquilo que já tinha certeza: esses caras são demais. Quanta humildade e simpatia comigo.
Com certeza vocês são a resposta de que fazer com o coração é o primeiro passo para que os sonhos se realizem. A madrugada em claro escrevendo o texto valeu cada segundo e a batalha travada com o sono durante o dia que se seguiu. rs Feliz que tenham recebido com tanto carinho o meu EP. Espero que gostem e possam me dar sua opinião crítica sobre o trabalho. Quanto ao CD de vocês ficarei muito feliz em ganhar =)
Até queria ter comprado o CD no dia do show para já colocá-lo no carro, mas o dinheiro na carteira só dava para o estacionamento =(. Brinquei com a moça dizendo que tinha dado meu CD de presente para vocês e perguntei se ela não podia dar um desconto ou retribuir o presente. rs Mas foi só uma brincadeira mesmo, pois faço questão de pagar pelo material artístico de músicos independentes. Também estou nessa batalha e sei o quanto investimos para produzir algo de qualidade com recursos tão escassos.
No dia do show acabei não podendo ficar para cumprimentá-los, tinha compromisso e não queria que esse momento do abraço sincero em cada um de vocês acontecesse de maneira afobada e corrida. Agora receberei um abraço sincero de “quebrar as costelas”. rs
Suas lágrimas de menina são as mesmas que também insistem em correr pelo meu rosto. Muito obrigado pelo seu comentário. Você não tem ideia do tamanho do incentivo que seu ato e palavras trouxeram ao meu dia, a minha vida, aos meus sonhos e esperanças. Um grande abraço!